Capítulo II – Da Lagarta à Pupa
“Queremos dar o próximo passo.” Leopoldo, responsável pelo departamento estratégico da Marcetex, iniciou a conversa. “Além de outros produtos, fabricamos divisórias para escritórios e gostaríamos de entender o quanto e como podemos contribuir para o LEED.”
Foi interessante perceber essa inversão de papeis. Geralmente somos nós que vamos até a indústria mostrar a importância de incorporar a sustentabilidade em seus produtos, mas, nesse caso, foram eles que chegaram até nós.
Nesse parágrafo, talvez escrevesse sobre como mapeamos todos os critérios ambientais dos produtos da Marcetex e também da sua cadeia de fornecedores; explicaria minuciosamente o cruzamento que fizemos a partir desses resultados com as exigências das certificações mais expressivas do mercado; entraria no resultado final de sua contribuição para o LEED dizendo que hoje a Marcetexatende um total de 2 dos 9 pontos possíveis e mostraria, inclusive, uma figura do resultado final e que intitulamos de DSP – Declaração Sustentável do Produto.
Figura – DSP Marcetex, SJ 2017
Contudo, quero contar uma outra história. Não estamos falando de transparência? E o que seria a transparência senão uma forma do entendimento do seu ser. Do entendimento dos seus erros e acertos. De saber, que muitas das realizações vêm de fracassos… e de não ter medo de expô-los, pois sem eles não haveria a experiência. Por isso, gostaria de contar a história de como uma “exigência” do mercado vem transformando toda uma empresa e nada melhor do que a reflexão de quem participou de todo o processo.
“A realização do diagnóstico para entender o grau de sustentabilidade dos nossos produtos nos deu uma nova visão, um novo olhar para os nossos processos. Houve melhorias na postura da empresa, em nosso comportamento e isso vem se refletindo desde a forma de como estudamos a composição dos materiais até como buscamos fornecedores em nossa cadeia.
O estudo nos possibilitou apontar fornecedores que seguem as exigências do LEED e, principalmente, aqueles que atendem aos requerimentos de VOC e materiais tóxicos. Foram contratados novos fornecedores de colas e tintas, porém, não excluímos os fornecedores antigos. Não faz parte da política da Marcetex excluir, mas trabalhar de forma a capacitar e incluir aqueles que compartilham da mesma visão que temos. Dessa forma, em um dos casos ajudamos um de nossos fornecedores de tintas (lacas e vernizes) para interiores a obter os laudos de VOC para os seus produtos. Em outro caso, temos um pequeno fornecedor de mão de obra que está a anos conosco. Ele tem uma oficina mecânica e cuida da nossa frota. Por ser pequeno, ele não sabia da exigência de uma Licença de Operação para suas instalações e tampouco sabia como fazer para obtê-la. Poderíamos simplesmente ter trocado de fornecedor, porém, escolhemos por usar nossa estrutura para orientá-lo e auxiliá-lo de todas as formas para que ele obtivesse sua licença.
Com este novo conhecimento foi possível entender a receita de produção das divisórias e apresentar os produtos com total transparência, sem ocultar eventuais “vilões ecológicos”, a fim de mensurar o real desempenho ambiental e técnico dos mesmos. Este conhecimento também foi muito importante na implantação do novo processo de orçamentos e custos, trazendo um controle melhor dos custos e preços a serem praticados.
No processo produtivo fazemos agora a gestão correta dos resíduos. Todo resíduo é separado e destinado para locais que tenham as licenças em dia. E esse também foi um ponto de mudança comportamental nosso. Hoje, nossos colaboradores entendem a importância da reciclagem e acaba que nos policiamos sempre que há algum deslize.
Em suma, podemos dizer que o diagnóstico deu um upgrade na atuação ambiental da Marcetex, potencializou o atendimento que já é realizado, realçou as certificações vigentes na empresa como o FSC e a ABNT Rotulagem Ambiental e fundamentou as estratégias em relação aos próximos passos que a Marcetex precisa percorrer em relação a sustentabilidade. São elas: novas certificações, novos relatórios, gestão de qualidade, entre outros.” (Adalberto Alves. Marcetex, 2017)
Sigmund Freud disse certa vez “Olhe para dentro, para as suas profundezas, aprenda primeiro a se conhecer.”
Texto escrito por:
Eduardo Straub, WELL AP e LEED AP BD+C, Sócio-Proprietário da StraubJunqueira (Consultoria Especializada em Construção Sustentável e Qualidade de Vida, Saúde e Bem-Estar), empresa membro do GBC Brasil.
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Texto originalmente escrito para o Blog do GBC Brasil